Fernando Fontana homenageado com a "Comenda Baronesa do Serro Azul"
Em companhia da esposa Theresa Christina Ribas Fontana e do neto Luis Alberto Fontana França, o homenageado agradeceu e ressaltou aspectos da vida e do papel representado pela baronesa nas muitas atividades filantrópicas de que foi protagonista, em especial após a morte de seu marido.
Esteve presente também o bisneto da benemérita baronesa, Paulo Fontana Junqueira, que fez a entrega de uma carta escrita em 1917 para integrar o acervo da Sociedade.
Leitura do Sr. José Borges Neto no envento de entrega da Comenda Baronesa do Serro Azul
Estamos aqui hoje para a entrega da primeira Comenda Benemérita Baronesa do Serro Azul - título honorífico, recém criado, para ser conferido a pessoas de destaque na vida nacional.
Certamente, o nome associado à homenagem não poderia ser outro senão o de Maria José Correia, a Baronesa do Serro Azul, sócia benemérita desta Sociedade Portuguesa desde 1902. Certamente também, a primeira Comenda a ser entregue não poderia deixar de sê-lo senão ao Dr. Fernando Fontana, que além de reunir méritos mais que suficientes para o recebimento da Comenda, é bisneto da Baronesa do Serro Azul. Assim, simbolicamente, pela homenagem ao Dr. Fernando Fontana, esta casa homenageia em seu descendente a própria Baronesa, pelo tanto que contribuiu para o povo paranaense e, em particular, para a comunidade portuguesa radicada em Curitiba.
Deixem-me falar, inicialmente, do Prof. Fernando Fontana, homenageado desta noite:
Fernando Fontana é advogado – formado pela UFPR em 1959 – com especialização em Administração – Fundação Getúlio Vargas em 1963, e Michigan State University, EUA, em 1967. Participou como palestrante em inúmeros eventos no Brasil, em Portugal, México, Bolívia e EUA.
Foi dirigente de empresas nacionais e multinacionais em São Paulo e Curitiba1968/1977 e Diretor de Banco comercial, de 1983 a 1988. Entre 1978 e 1983, foi " Secretário de Indústrias e Comércio", "Secretário de Administração", e "Secretário do Interior" (do estado do Paraná).
De 1995 a 1999 foi Diretor e Presidente do BRDE (Banco de Desenvolvimento da Região Sul), com sede em Porto Alegre. Entre 2001 e 2002 foi Presidente do INSS – Instituto Nacional do Seguro Social.
Foi ainda Presidente do CIEE/PR; da ADVB; da Associação de Amigos do Hospital de Clinícas; do Instituto Liberal do Paraná e Vice Presidente da Associação Comercial do Paraná e do Movimento Pró-Paraná. Foi também professor universitário na FGV/SP, na FESP e na FAE.
Fernando Fontana recebeu inúmeras homenagens em sua vida profissional, entre as quais: " PersonalidadeAECIC1980"; "Guerreiro do Paraná 2001"; "Medalha Duque de Caxias/2002" (do Grande Oriente do Brasil/Paraná); "Membro Honorário do CIEEE/ Nacional e do CIEE de Santa Catarina"; "Membro Honorário da AECIC"; "Cidadão Honorário" de Cascavel, Maringá, Jaguariaíva e outras cidades paraenses, e "Sócio Honorário" da ALCOPAR- Associação de Produtores de Álcool do Paraná.
É filho de ILDEFONSO CORREIA FONTANA, neto de SIROBA CORREIA FONTANA e bisneto de MARIA JSÉ CORREIA – Baronesa do Serro Azul.
Nesta breve exposição do currículo do Prof. Fontana, que o situa claramente como uma pessoa de destaque na sociedade Curitiba e paranaense, podemos perceber a justeza da homenagem que fazemos.
Deixem-me fazer agora um breve relato sobre os acontecimentos que ligaram, indissoluvelmente, a Baronesa do Serro Azul e a comunidade portuguesa de Curitiba.
Em Novembro de 1878, quinze portugueses reuniram-se e criaram uma sociedade beneficente que recebeu o nome de Sociedade Portuguesa Beneficente 1º de Dezembro. Tratava-se de uma sociedade puramente beneficente, cujo propósito era o amparo aos imigrantes portugueses e suas famílias.
A iniciativa era semelhante à que levou a criação das Sociedades Portuguesas de Beneficência de Santos e de São Paulo- -ambas criadas em 1859 – e idêntica missão.
Eram apenas quinze, no início, e nunca passaram de pouco mais de duzentos. O número inicial de sócios, no entanto, não era o mais relevante: a Sociedade Portuguesa de beneficência de Santos tinha apenas 20 sócios na sua fundação.
Os fundos obtidos nunca foram abundantes. Em dezembro de 1903, por exemplo, a situação financeira apresentada era de pouco mais de 160 contos de réis em caixa e de uma dívida que beirava os 800 contos de réis.
Em dezembro de 1901, assume a presidência da Sociedade o Comendador Antonio de Barros e , com ele, a idéia da construção de um hospital – a exemplo dos hospitais da beneficência portuguesa do Rio de Janeiro, de Santos e de São Paulo – passa a ser o foco da Sociedade 1º de Dezembro.
Já na ata da diretoria da Sociedade de 09 de fevereiro de 1902 (Antonio de Barros era o presidente e Domingos Duarte Velloso o secretário), encontramos a seguinte passagem:
O Exmo. Sr. Presidente communicou que tendo pedido á Exma. Sra. Baroneza do Serro Azul um terreno para a construcção de um hospital para a Sociedade, Ella o ofereceu com todo o prazer, fazendo ao mesmo tempo os mais ardentes votos pelo progresso da Sociedade.
Pessoa de invulgar desprendimento e de altíssima consciência social, a Sra. Maria José Correia, Baronesa do Serro Azul, percebe o alcance da iniciativa e para ela concorre substancialmente. E com presteza. Em 28 de abril de 1902, encontramos na ata da reunião da diretoria da Sociedade o seguinte trecho:
O Exmo. Sr. Presidente communicou que a Exma. Baroneza do Serro Azul cedera para a Sociedade os lotes de terreno nº14-16-19 e 20, situados na Villa Ildefonso para a construcção do hospital. Ao mesmo tempo authorizou o Secretário a fazer o requerimento à Câmara. O 1º Secretário communicou que a mesma Exma. Sra. Oferecera á Sociedade uma mobília. Ficou resolvido convocar-se para mais tarde uma Assembléia Geral para conferir-lhe o título de sócia Benemérita, por valiosos danativos.
Nesses quatro lotes de terreno construíram-se casas de madeira (6 casas no total) que começaram a servir como ambulatórios e como sede para a Sociedade. É de se ressaltar que os terrenos ficavam muito longe do centro de Curitiba – junto à atual Av. Visconde de Guarapuava, na altura do Batel – e, portanto, de acesso difícil.
É importante destacar que Curitiba, à época, contava com cerca de 50 mil habitantes e que entre os sócios da Sociedade não havia ricos. Ao contrário do que aconteceu em outros lugares – em Santos, por exemplo, o terreno para a construção do hospital foi doado por um português – a comunidade portuguesa de Curitiba não possuía membros com suficientes posses para dar suporte a iniciativas do porte da construção do hospital.
Assim, apesar dos esforços daquele punhado de idealistas, o hospital não passou do lançamento de uma pedra fundamental e das poucas casinhas de madeira. Não quero me alongar com essa história, mas há duas questões que merecem alguns comentários:
A primeira tem a ver com o que aconteceu com o sonho da construção do hospital: embora continuasse existindo, a Sociedade desistiu do hospital?
A segunda tem a ver com o destino dos terrenos: como, partindo dos terrenos doados pela baronesa, chegamos até a sede atual da Sociedade?
A estudante de mestrado em História Celina Fiamoncini, desenvolve uma investigação sobre as razões de não ter sido construído o hospital, levanta a hipótese de que portugueses ligados à Sociedade acabaram se tornando provedores da Santa Casa de Misericórdia (José Fernandes Loureiro, por exemplo, um dos quinze fundadores da Sociedade, foi provedor da Santa Casa no ano de 1887, o mesmo ano da fundação de nossa Sociedade; alem dele, outros membros da Sociedade em épocas diversas, também foram provedores da Santa Casa: Manoel Martins de Abreu – 1919; Antonio de Souza Mello – 1926, 27, 30; José Loureiro Fernandes, que foi presidente desta casa entre , foi provedor da Santa Casa nos anos 40) e que pelo pequeno número de associados e a constante crise econômica da Sociedade (essa questão aparece bastante na documentação), ao invés de levar a cabo o projeto de montar um hospital aos moldes das Beneficências do Rio de Janeiro, São Paulo e outras com verbas das Sociedades Beneficentes, eles se associaram ao poder público e acabaram apoiando e fazendo parte da criação e direção da Santa Casa de Misericórdia construída com verba pública predominantemente. Já que sozinhos eles não tinham condições de construir um hospital, que era realmente necessário para a época, uniram forças em nome de um "bem coletivo" maior. O sonho de construir um hospital próprio dá lugar ao esforço de prover a Misericórdia.
Em 1913 – data da qual não tenho certeza – a prefeitura de Curitiba doou à Sociedade Portuguesa um terreno na rua Amintas de Barros como compensação pelo alargamento da Av.
Visconde de Guarapuava, alargamento que ocupou parte dos terrenos doados pela baronesa à Sociedade. Em 1923, a Sociedade vendeu os terrenos da Visconde de Guarapuava.
1923 é um ano crucial para a história da Sociedade. É um ano em que verificamos uma transformação radical em sua natureza.
Em Curitiba, havia outras duas sociedades ligadas à cultura portuguesa: o Centro Republicano Miguel Bombarda, fundado em 1913, e o Grêmio Luis de Camões, fundado em 1917. Em 1923, essas duas entidades fundem-se à Sociedade Beneficente e surge a Sociedade Portuguesa Beneficente e Recreativa 1º de Dezembro.
Em conseqüência, o foco deixa de ser a beneficência pura, que se diluiu ante um conjunto de outras atividades, sociais e recreativas. Por exemplo:
Em novembro de 1923, apenas oito meses após a fusão, um ofício assinado por três sócio comunica à Diretoria da Sociedade que um grêmio composto de "senhoritas e cavalheiros, para efeitos recreativos" está sendo fundado no interior da Sociedade – o grêmio de Grêmio Luis de Camões, em homenagem ao antigo Grêmio que desapareceu com a fusão. A Diretoria autoriza o funcionamento do grêmio e solicita "[a]os cavalheiros que desse grêmio façam parte" que dêem sempre conhecimento à Diretoria de suas atividades, "para evitar futuros atritos, certo de que nas suas reuniões terão sempre ingressos os sócios de nossa Sociedade". No 10 de juhho de 1924, a Sociedade realiza "seção solene e literária acompanhada de baile" – conforme Ata da Diretoria de primeiro de junho de 1924 – em comemoração ao quadricentenário de Camões.
No final dos anos 50, em 1959, surge o Grupo Folclórico Alma Lusa.
Chego assim ao fim de uma história que ainda está por ser integralmente revelada. Desde os anos 90 a Sociedade não é mais "beneficente" – o termo não está mais presente em seu nome – e a "missão" não é mais contemplada nos estatutos. Nossa sede, com a "parte velha" termina de construir em 195_, sofreu ampliações e reformas.
Nessa jornada de 132 anos muita coisa mudo na vida da Sociedade Portuguesa, mas a gratidão que a comunidade lusíada de Curitiba sente pelo gesto gêneros da Baronesa do Cerro Azul permanece inalterada.
Obrigado.
Conheça ainda mais sobre a Sociedade Portuguesa 1º de Dezembro através de nosso Estatuto. Leia mais...