1º PARTE (1878 à 1923)
Sempre me contaram que a Sociedade foi fundada em 10 de novembro de 1878 e inaugurada no dia 1º de dezembro de 1878, pois bem, parece que não é bem assim, veja só que curioso: Na Ata do dia 10 de novembro de 1878 lê-se o seguinte: "Acta de eleição (...) O Sr. Antônio Gomes Vidal presidindo a mesa intineramentes declara á quatorze sócios presentes que a reunião de hoje tem por fim eleger a Diretoria desta Sociedade e que por isso vai tratar da eleição por escrutínio secreto. Concluída a eleição e feita a apuração dos votos...".
Não encontrei a ata de fundação da Sociedade e me parece pouco provável que esta tenha sido neste mesmo dia, acredito que devem ter ocorrido várias reuniões antes desta data, até sua efetiva concretização. Os mais afoitos podem pensar que não poderia haver sócios antes de eleita a primeira Diretoria e feito os Estatutos Sociais. Os quinze sócios presentes (calma, os quatorze mais o Presidente da mesa) são os sócios fundadores. Mais adiante nesta mesma Ata temos: "e convida aos sócios para no dia 12 se reunirem neste recinto a fim de tratar sobre o título da Sociedade...". O recinto a que se refere a Ata foi "na salla da loja 27 Dezembro no Largo do Zacarias" e ainda, revendo a Ata do dia 12 de novembro de 1878 está escrito: "Que a Sociedade Portugueza Beneficente seja denominada (...) Primeiro de Dezembro em memória da independência de Portugal em 1640...", isso quer dizer que a Sociedade nasceu com o nome SOCIEDADE PORTUGUEZA BENEFICENTE e o complemento PRIMEIRO DE DEZEMBRO foi acrescentado depois. Polemizando: a denominação deve ser escrita em numeral ou por extenso como na Ata? Por falar em ata, a inauguração ocorreu mesmo no dia Primeiro de Dezembro como consta da Acta de Sessão Inaugural.
Não sei com quanto sócios fundadores nasceu a Sociedade (pelo menos quinze), mas em dezembro de 1912 eram 71, em dezembro de 1928 constavam 91 e em dezembro de 1994 estavam registrados 209 e em dezembro de 1996 chegamos a 252 sócios, isto nos dá o espetacular crescimento de 2,13 sócios/ano. A quantidade de sócios e a inadimplência é quase tão antiga quanto a Sociedade, as Atas nos revelam que a freqüência das novas admissões de sócios e ao mesmo tempo a eliminação de tantos outros é muito freqüente.
A sede Social teve os mais variados endereços, só para que tenhamos uma idéia, a primeira reunião da Diretoria foi na casa do Vice Presidente Sr. Antônio Martins Franco, até o final de 1900 não tinha sede, baseio-me na Ata de agosto de 1900 cuja reunião foi realizada na casa do então Presidente, à rua 15 de Novembro, 57 e pela Ata de reunião de 09 de dezembro do mesmo ano na qual foi aprovada a proposta de se alugar uma casa para servir de sede. Uma curiosidade, nesta Ata os Diretores assumiram as despesas do alugél "em partes iguais" para não onerar os cofres da Sociedade. Nesta época o presidente era o Sr. José Rodrigues D'Almeida. Em janeiro, já com sede estabelecida, começa a funcionar a biblioteca com os primeiros livros doados pelos sócios. Em janeiro de 1913 a sede social era na Rua Riachuelo, no final deste ano passou a funcionar na mesma sede do Centro Republicano Portugez Miguel Bombarda até dezembro de 1914, em 1927 na Rua 15 de Novembro, 14 2º andar, AM abril de 1930 num sobrado da Rua Garibaldi, 107, em janeiro de 1931 na Rua 15 de Novembro, 896.
Ufa!!! Tem mais, mas chega; a última vez que fui a Sociedade ela ainda estava na Rua Pedro Ivo, 462.
Bem, voltemos um pouco, lá pelos idos da noite do dia 8 para 9 de maio de 1902, um fato agitou a Comunidade Curitibana envolvendo a nossa Sociedade e teve repercussão até em outros Estados: a Sociedade foi assaltada, sim senhor, está registrado na Ata do dia 28 de maio de 1902.
Neste lamentável fato "utilizaram uma bandeira Portugueza rasgando-á, diversos quadro e colleções de jornaes assim como riscaram à carvão as paredes do salão, escrevendo palavras obscenas e insultuosas não só aos portuguezes, como a própria Nação". Pelas atas de reunião que se seguiram, constata-se que a primeira Bandeira de Portugal que a Sociedade teve, foi doada pelo Sr. José Rodrigues D'Almeida, que ofertou uma outra Bandeira em reparo ao ato dos vândalos.
A Sociedade não tinha sede própria mas possuía propriedades como 6 lotes de terreno no Batel, nos quais foram construídas seis casas de madeira. Estes terrenos foram doados pela Baronesa do Cerro Azul e registrados no 1º Tabelionato Antônio Rodrigues Monteiro, isto consta em Ata do dia 07 de março de 1915, assim como consta a escritura datada de 23 de junho de 1913 de um terreno cedido pela Prefeitura à Sociedade à Rua Amintas de Barros, 7 em compensação pelo alargamento da Av. Visconde de Guarapuava, foi cedido por Carta de Transferência. O Terreno no Batel com três casas foi vendido por 3 contos de Reis em janeiro de 1923.
Como vemos a vocação da Sociedade para imobiliária, vem de longe, todas as casas estavam alugadas e pelas Atas constatei que frequentemente a Sociedade tinha problemas para receber os aluguéis.
Já que não tínhamos sede própria, mudamos, em junho de 1920 funcionou nas dependências do Grêmio Portuguez Luiz de Camões.
Você sabia que a Sociedade na atualidade é fruto do agrupamento de carias outras? Pois é, em 11 de março de 1923 a SOCIEDADE PORTUGUEZA PRIMEIRO DE DEZEMBRO, GREMIO PORTUGUEZ LUIZ DE CAMÕES e o CENTRO REPUBLICANO MIGUEL BOMBARDA, fundiram-se criando uma nova entidade: SOCIEDADE PORTUGUEZA BENEFICENTE E RECREATIVA PRIMEIRO DE DEZEMBRO; o termo de encerramento da Sociedade Portugueza Beneficente Primeiro de Dezembro tem data de 25 de março de 1923.
Eu vou ficando por aqui, nos idos de 1923 com a nova Sociedade, prometo voltar na próxima edição com mais um período da nossa história, afinal acredito que este seja um dos mais valiosos patrimônios que possuímos e que infelizmente nem sempre é lembrado.
Até lá!!!
2º PARTE (1923 à 1930)
Sacudindo a poeira da história, volto contando mais um período da história da nossa Sociedade guardada nos velhos livros de atas das Diretorias. Volto contente e envaidecido com os elogios de que fui alvo na Reunião do Conselho Deliberativo no dia 10 de junho próximo passado com as palavras de elogio do Presidente José Mendes Jordão, incentivando-me a continuar nesta empreitada, Obrigado, muito obrigado Presidente.
Satisfeito, com aquela sensação de dever cumprido ao constatar que a empreitada começa a dar seus primeiros frutos dentro da nossa comunidade, fiquei imensamente feliz ao ouvir no dia 26 de julho no programa Pelos Caminhos de Portugal, precisamente às 12:40 o s Srs. Braulio Simões e Antonio C. Mello, complementarem esta coluna, começando, a partir daquele programa, a contar outras curiosidades da história de nossa Sociedade, também de uma forma alegre e descontraída do tipo "você sabia?".
É isso aí, o Informativo parece estar no caminho certo, informa e incentiva outras pessoas a difundir as nossas coisas.
Chega de conversa e massagem no êgo, reatemos nosso assunto lembrando que no número anterior deste Informativo, tínhamos parado no ano de 1923, justamente no dia 11 de março de 1923, dia em que houve a fusão das entidades: Sociedade Portugueza Bneficente Primeiro de Dezembro, Grêmi Portuguez Luiz de Camões e Centro Republicano Miguel Bombarda, formando a Sociedade Portugueza Beneficente e Recreativa Primeiro de Dezembro.
Curiosidade histórica: em novembro deste ano, apenas oito meses após a fusão, um oficio assinado por três sócios comunica a Diretoria da Sociedade que fundam um Grêmio composto de "senhoritas e cavalheiros, para efeitos recreativos" como nome de Grêmio Luís de Camões "em homenagem ao extinto Grêmio", pedindo que o recém criado Grêmio funcionasse nas dependências da Sociedade. A Diretoria concedeu o pedido e resolveu que "os Cavalheiros que desse Grêmio façam parte, seja dado conhecimento a esta Secretaria, para evitar futuros atritos, certo de que nas suas reuniões terão sempre ingressos os sócios da nossa Sociedade".
Caro amigo: Você sabe desde quando é comemorado o dia 10 de Junho da nossa Sociedade?
A primeira referência que encontrei foi na ata da 6ª sessão de Diretoria realizada no dia 1 de Junho de 1924 "em comemoração ao centenário de Camões, com uma sessão solene e literária, acompanhada de baile". Na realidade a comemoração não foi ao centenário e sim ao "Quatricentenário de Camões", como está assentado na ata do dia 6 de julho de 1924 que além dos oradores "usaram da palavra diversas senhoritas, festival este que resultou em imponência". Isto posto, o dia 10 de Junho é festejado na nossa Sociedade à pelo menos 74 anos.
Bem, vejamos se ajustamos um consenso nesta festividade. Ao que tudo indica, Camões nasceu no ano de 1524 e por mais que me tenha esforçado em pesquisar, não descri em que dia e mês se deu o seu nascimento. A maioria dos livros que pesquisei aponta o ano de 1524 como o ano de seu nascimento; se isto é verdade, a Sociedade festejou pela primeira vez em comemoração ao Quarto Centenário de seu nascimento, pois foi no ano de 1924. Mas, se parássemos por aí não tinha a menor graça! Coloquemos um pouco de pimenta no assunto só para contrariar: Camões morreu em Lisboa no dia 10 de junho de 1580! Sensacional! Supimpa! Consegui fazer uma boa confusão; responda rápido: a Sociedade comemora no dia 10 de Junho o nascimento (como foi comemorado da primeira vez) ou o dia do falecimento de Camões?
É certo que tem uma explicação que esclarece o assunto, mas... não vou esclarecer nada ! Tentarei fazer um jogo com os leitores: vocês me enviam as explicações, esclarecimentos, opiniões etc. que no próximo número estarei publicando todas as explicações que receber, com nome do Autor e tudo mais. Combinado?
Chega de atualidades, nosso assunto é história, a nossa história, vamos voltar a ela, voltemos ao ano de 19...
Mar de calmarias da história nos anos seguintes, em 29 de março de 1929 a Sociedade mudou-se para a Rua Garibaldi, 107 e em dezembro, a Sociedade vendeu parte dos terrenos da Avenida Visconde de Guarapuava por "seis contos de reis".
Águas agitadas no ano de 1930: em maio 12 sócios incitam a convocação de uma Assembléia Geral, dos quais 9 sócios estavam em dia e 3 não estava quites com a tesouraria. A Diretoria indeferiu o pedido. Um dos sócios assinou uma declaração publicada na Gazeta do Povo, considerada ofensiva à Diretoria.
Após as diligencias estatutárias e ouvidas as explicações de quem "assignara" a declaração, a Diretoria resolveu aplicar a pena de eliminação do sócio, prevista nos estatutos da época (ata da 6ª Sessão Extraordinária de 30 de maio de 1930).
A Diretoria demitiu-se em 31 de junho de 1930 e uma Assembléia Geral realizada em 06 de julho de 1930 realizou novas eleições.
Numa das Atas deste ano consta que foram eliminados, por falta de pagamento, 58 sócios.
Um dos sócios foi reintegrado por ser considerada a sua eliminação um engano devido a que este não residia em Curitiba e só quitava as quotas quando vinha a Capital.
3º PARTE (1930 à 1960)
Antes de iniciar a contar a história contida nos velhos livros de Atas da Diretoria, gostaria de deixar registrado que não fui o primeiro a tentar a resgatar nossa história, dentro dos livros de atas encontrei diversos rascunhos com anotações cronológicas sobre a composição das Diretorias eleitas e anotações de eventos da nossa Sociedade; infelizmente não foi possível descobrir o autor.
Relembrando: na edição do Informativo nº 02, estávamos no ano de 1930, que foi bastante agitado com o pedido da Assembléia Geral por 12 sócios, a publicação de uma declaração de um dos sócios na Gazeta do Povo, que a Diretoria considerou-a ofensiva e que culminou com a eliminação do sócio, a demissão coletiva desta Diretoria em 13 de junho de 1930 e conseqüentemente a Assembléia Geral realizada em 06 de junho para a realização de novas eleições.
Estamos agora em janeiro de 1931, quando a Diretoria encomendou a placa da porta de entrada da Sociedade ao Sr. José Borges "artista de real mérito em placas esmaltadas", acredito que esta placa date daquela época e se for verdadeiro é uma pela de patrimônio histórico, com 67 anos de fabricação que merece ser preservada.
A memória de nossa Sociedade sofre um irremediável revés com a perda do livro de atas da Diretoria que continha as atas entre 1931 e 1949. O registro consta em ata do dia 14 de janeiro de 1950 onde se lê: "o Sr. 1º Secretário declara em seguida, que deixa de ler a ata da sessão anterior em vista de não ter sido pela Diretoria anterior feito a entrega do Livro de Atas da Diretoria".
Em reunião realizada no dia 22 de março de 1950, o então Presidente fez contar na ata o inteiro teor de um ofício que fora enviado ao Presidente da gestão anterior, solicitando a entrega do referido livro e como não obteve resposta ficou resolvido marcar uma Assembléia Geral para tratar do assunto; não consta em atas posteriores se esta Assembléia foi realmente realizada.
Às 21:00h do dia 15 de fevereiro de 1950, teve início uma Sessão Solene, no Salão Nobre, sendo recepcionado o Dr. João D'Almendra, Presidente da Casa de Traz os Montes e Alto Douro que estava em visita à comunidade portuguesa de nossa cidade, sendo acompanhados pelos Srs.: David da Silva Carneiro e José Loureiro Fernandes.
O ano de 1956 foi um dos mais movimentados da nossa Sociedade: o Presidente José Alberto Santiago pede demissão do cargo por problemas particulares "em caráter irrevogável", não sendo aceita pela Assembléia Geral Extraordinária, reassumindo promove a modernização interna da Sociedade como a regularização da contabilidade da Sociedade que tinha sido interrompida desde 01 de dezembro de 1949 sendo encarregado da escrituração o Sr. Luiz Romero que concluiu em abril. O Sr. José Borges pede demissão em 02 de maio de 1956, não sendo aceita pela Diretoria; não há registros precisos sobre este assunto mas é provável que a Assembléia Geral Extraordinária de 14 de outubro de 1956 tenha resolvido a questão pelo que se deduz na ata do dia 13 de outubro de 1956 onde está assentado "...Dos avisos de convocação para a Assembléia Geral Extraordinária a realizar-se amanhã comunicou que o sócio Sr. José Borges, negou-se a receber o seu aviso dizendo não se considerar mais sócio e este assunto nada mais tinha a ser discutido..." pois foi nomeado numa comissão de sindicância (ata do dia 10 de janeiro de 1961) e posteriormente Diretor de Beneficência em gestão posterior.
O Presidente José Alberto Santiago, além de reformar a escrituração contábil da Sociedade implantou o Livro de Registro de Sócios, o Fichário com os dados completos dos Associados (utilizados até hoje), assim como a contratação de "uma mulher para proceder à limpeza da Sede desta Sociedade pois a mesma é muito falha", como está assentado na ata do dia 16 de julho de 1957. É provável que também seja o articulador na abertura do Quadro Social para sócios não portugueses pelo que consta da "14º Acta de 20 de fevereiro de 1957" no seguinte trecho: "...Deliberou-se convocar a Assembléia Geral Extraordinária ventilada na acta anterior para o dia 23 do mês de março próximo, para reforma dos Estatutos desta Sociedade, aumento das quotas e nacionalização de nosso quadro social...".
A primeira referência que a Sociedade faz da existência do Grupo Folclórico está na ata de 02 de novembro de 1959: "...achava que com a presença do Grupo de Folclore Portuguez, se podia dar um cunho mais festivo às comemorações das referidas datas..." referindo-se ao doa 1º de Dezembro e pelo que se deduz do texto a seguir nesta mesma ata, o Grupo Folclórico não pertencia a Sociedade: "...tendo, para esse efeito, entrado em entendimento com os responsáveis pelo referido Grupo, para fazerem nesse dia uma apresentação aos senhores sócios e suas famílias...".
Dentre as curiosidades que encontrei, uma me chamou especialmente a atenção: o tradicional Porto de Honra oferecido na comemoração do dia 10 de Junho, não é tão antigo como pensava... Vejam só o que está escrito na ata do dia 06 de junho de 1960:
"...dos festejos a se realizarem no próximo dia 10 do corrente, em comemoração do dia de Camões, ficou resolvido convidar para orador o Exmo. Doutor David Carneiro, convidar as autoridades civis, militares e eclesiásticas, bem como o corpo diplomático sediado em Curitiba, oferecer um copo dagua aos convidados..."
Os anos'60, como no resto do mundo, também marcaram profundamente a nossa Sociedade, muitos fatos curiosos e importantes ocorreram, mas isto vou contar numa outra oportunidade.
Chego ao final do trabalho de pesquisa garimpando nos velhos livros o resgate da história desta Sociedade, deixando para o Diretor de Patrimônio Histórico, cargo recém criado, a missão de continuar o relato.
Termino com o sabor de dever cumprido, com a satisfação de ter contribuído da maneira que estava ao meu alcance e podia fazer, para o crescimento da nossa Sociedade pois estou convencido que:
QUEM DESCONHECE SEU PASSADO, NÃO TEM MEMÓRIA. QUEM NÃO TEM MEMÓRIA NÃO POSSUI IDENTIDADE.
Conheça ainda mais sobre a Sociedade Portuguesa 1º de Dezembro através de nosso Estatuto. Leia mais...